Travessia da Serra da Pedra Vermelha
Por Mazinho Bender
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Uma serra, uma lembrança, uma vontade. A mais de dez anos
atrás, em 1985, eu
havia explorado um caminho que atravessava a Serra da Pedra Vermelha, divisa dos
municípios de Mairiporã e Atibaia, lembrava-me que de moto já havia sido difícil
vencer o mato que fechava a trilha, mas a vontade de explorar novamente esta serra e desta
vez de bicicleta foi irresistível e na companhia de dois amigos, Luiz e Magrão, fomos
desbravar o novo caminho.
Depois de uns 16 km, chegamos ao pé da Serra da Pedra Vermelha e a
primeira
rampa a enfrentar foi radical, esta tinha o piso cimentado, pois de tão
íngreme, dificultava o acesso de veículos a um loteamento mais acima, felizmente ela era
curta e mais um trecho de rua depois deparamo-nos com o inicio da trilha(foto 1) que na
verdade é uma estrada abandonada na qual o mato tomou conta e subir pedalando nem pensar,
chão liso, galhos e cipós enroscando em tudo que é canto o jeito é empurrar. Mal
tínhamos percorrido cem metros e a direção a seguir se tornou inviável pela grande
quantidade de mato, por sorte uma clareira aberta pelo corte de árvores reflorestada, nos
permitiu descer um pouco e achar uma outra opção(foto 2), não
era aquela pela qual eu tinha passado a anos atrás, ótimo! Caminho novo!
A estradinha durou pouco e se transformou numa deliciosa trilha bem
marcada em meio a mata fechada, passamos por um antigo laguinho(foto 3),
onde abastecemos as caramanholas. Maravilhado com a nossa descoberta que a cada passo
apresentava uma novidade: uma ponte de troncos, uma bela gruta(foto 4 e 5) e muito verde,
porém nem tudo era maravilha, a trilha ia cada vez mais se fechando e ficando mais
íngreme(foto 6)
e este era o preço que tínhamos que pagar e
achávamos que não era alto, até aquele momento
.
Duas pedras altas e separadas por menos de meio metro formavam um
estreito
corredor(foto 6a), o qual era a nossa única passagem para chegarmos a um
leito de estrada abandonada(foto7), a qual reconheci, era o caminho que eu tinha
percorrido na minha primeira exploração daquela serra e o mesmo que tínhamos desviado
na clareira, lembra?
A expectativa de que estávamos chegando nos deu animo para enfrentar
um caminho bastante fechado pelo mato até que encontramos uma trifurcação, onde a
opção da esquerda e do meio eram leitos de estradas abandonadas e a opção da direita a
continuação da trilha mais marcada, optamos em seguir esta, mesmo eu sabendo que na
minhas vagas lembranças esta não era o caminho da primeira exploração.
Um córrego e muita mata fechada por onde a trilha se adentrava, nos
fez retornar e tentar a opção do meio na tal trifurcação, mas pouco depois fomos
vencidos pelo mato fechado, retornamos para tentar a opção da esquerda, nesta fomos bem
mais longe para perceber que também não dava em nada. O desanimo caiu pesado sobre nós,
mas a vontade de achar uma opção de atravessar aquela serra nos levou a enfrentar a
trilha que seguia mata adentro depois do córrego.
Galhos e cipós enroscavam na bike e nas pernas que já estavam
bastante arranhadas e sangravam em alguns lugares e a cada enroscada, resmungos e
xingamentos eram emitidos para aliviar o mal humor que estava ficando cada vez mais forte
em nós três. Analisei a situação e percebi que dos três eu era o único que não
poderia perder o animo e bom humor, pois a idéia tinha sido minha e sabia plenamente das
dificuldades que poderiam ocorrer, passei então a encarar tudo com naturalidade e a
transmitir isto, na medida do possível, aos outros. Um tempo depois, não sei quanto,
pois empurrando a bike no meio daquele matagal perdi a noção de distância e tempo;
chegamos a outro leito de estrada abandonada, mas a alegria durou pouco, pois a trilha
logo se embrenhou de novo pela mata adentro, como era a única opção viável...
A
esta altura do campeonato surgiam frases interessantes: Depois de tanto mato não quero
comer salada por uma semana. Que saudade dos cachorros nos perseguindo, da poeira
dos carros. Era também consenso entre os três que a partir de agora era ir em frente
ou ir em frente, voltar pelo mesmo caminho jamais, neste instante imaginei como seria se
chegássemos ao fim daquela trilha no meio do nada e as únicas opções seriam voltar ou
enfrentar a mata fechada com a esperança de sair em alguma estrada, por sorte ainda era
uma hora da tarde e tínhamos bastante tempo antes de escurecer, ai sim a coisa ia ficar
preta, literalmente.
Um galho aqui outro ali, cortado com uma ferramenta de corte (faca,
facão ou sei lá o que) a muito tempo indicava que a trilha não era (só) de uso dos
animais e toda e qualquer oportunidade que tínhamos de subir na bike era aproveitada com
muito prazer, até que numa destas um cipó com espinhos enroscou em mim causando cortes
no braço e na mão, mas a dor foi compensada logo depois com a fantástica visão de um
telhado brilhando de tão novo e com aquela linda cor vermelha, ufa!
Conseguimos chegar em uma estrada, mas logo a frente há uma trilha que conheço, a qual
completa a travessia desta serra e na próxima vez vamos entrar pelo lado oposto e tentar
chegar até aqui. Aguarde!